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sexta-feira, 4 de março de 2011

Consertando... formigas!

Este blog foi aberto para falar sobre o conserto de um fusca, o FuscaVaca, além de outras coisas que quebram. Mas, como passei por um problema que me quebrou a cabeça, resolvi postar algo para auxiliar aqueles que pretendem manter os cabelos no lugar tradicional: na cabeça.
Acontece que, aproveitando as chuvas de verão resolvi, entre uma martelada e outra, arrumar as plantas da casa e - SURPRESA! - encontrei formiguinhas depenando meus pés de laranja, limão galego, taití, lima, e tudo o mais que pudesse ser proveitoso aos homens como alimento. Elas parecem ter os mesmos gostos. Isso aconteceu em meados de dezembro.

Mas as formigas não comem o que levam ao formigueiro. Aquelas folhas servem para alimentar o fungo, que é o alimento delas. Falo das formigas quen-quen, ou quém-quém, ou quenquem, como já vi escrito por aí. É uma formiguinha que se parece com uma saúva, porém menor. Algumas espécies têm espinhos no corpo e na cabeça. São muito espertinhas. É difícil pegá-las porque não deixam muito rastro por onde passam, de tão leves que são. Encontrar o ninho é uma dificuldade enorme, mas é possível.

O ninho delas, o formigueiro, é raso, bem perto da superfície do solo. Elas procuram lugares úmidos sob as folhagens, galhos secos, sujeira mesmo, e ali povoam a terra. Inicialmente encontramos centenas, mas, com o tempo, tornam-se milhares de milhares. Numa área de aproximadamente 15 x 30m encontrei vários formigueiros. Foi um tormento atroz conseguir exterminá-las. E é isso que pretendo contar um pouco aqui.

Inicialmente, antes de entupir o chão de veneno, tratei de descobrir o formigueiro. Fiquei atento para ver aonde as carregadeiras estavam levando as folhinhas cortadas. Segui o bando de assaltantes e encontrei um pequeno ponto de trocas. Pensei que era o formigueiro e acendi um bom maçarico ali, até sentir o cheiro de formiga assada. Mas elas me enganaram. Enquanto eu queimava algumas amiguinhas, outras passavam por trás de mim e continuavam sua labuta. Dei por fé e continuei minha perseguição. Andei uns 5 ou 6 metros e as encontrei sob um pé de mandioca. Arranquei uma raiz enorme e lá estavam todas elas, contentes e satisfeitas com as folhas da minha laranjeira. Acendi o maçarico e sapequei tudo. Não sobrou nem um funguinho pra contar história.

Dia seguinte, contente por ter minha laranjeira de volta, vi que as formigas estavam ali, passando bem debaixo do meu nariz, leves e saltitantes. Eu, furioso. Voltei ao maçarico e fui atrás delas. Davam a volta por trás de um muro e saiam do outro lado, onde eu não poderia fazer fogo de forma alguma pois causaria um incêndio enorme nas árvores ali perto - uma delas havia caído e estava seca. Imaginei que estivessem exatamente em baixo do tronco caído, e acertei. Lá estavam elas, cheias de folhas e galhinhos podres. Desta vez, tive que usar veneno.

A recomendação é para não ser bondoso, usando veneno fraco. Elas não desistem e ainda dão risada na nossa cara. Usei, então, o recomendado pelo agrônomo: Folisuper, um organofosforado, que cheira algo desconhecido mas profundamente horrível. Preparei a dosagem e levei ao formigueiro. Segui as recomendações e, confesso, exagerei um pouco: entupi o formigueiro até não ver mais nenhuma formiga acenando para mim.

Dois dias depois, volto ao local do formigocídio e não vi mais nada. Mas, voltando para a oficina, encontro outro bando de assaltantes, desta vez, comendo folhas de meus pés de abóbora. Subi pelas paredes. Voltei ao maçarico e queimei todas as que encontrei pela frente, mas não consegui encontrar o formigueiro.

Para resumir um pouco, cumpri uma via sacra com dezoito formigueiros, enrolei plantas com plástico e graxa, deixei luvas cheirando veneno, lavei as mãos uma centena de vezes em mais de quarenta dias de suor e lágrimas. Perdi dois pés de laranja, um de limão, um de abóbora, um especial de azeitonas. Este pé estava começando a soltar folhas novas. Em uma noite foi assassinado, desfolhado completamente e, até agora, começo de março, nem sinal de brotação. Mas consegui acabar com elas, e quero contar como fiz para conseguir essa proeza. Um detalhe importante: eu usei iscas prontas para que levassem ao formigueiro, mas não adiantou por causa de alguns erros que cometi.

Ao longo deste sofrimento atroz, da raiva suada, observei que as quen-quens apreciam demais mamão maduro. Como diz o ditado, o peixe morre pela boca. Deixei um mamão caído perto do mamoeiro e fiquei obsevando. Elas invadiram o mamão e começaram a levar pedacinhos para o formigueiro. Juntaram um bando enorme de amiguinhas do alheio e fizeram fila indiana. Notei que as que cortavam não carregavam, e as que carregavam, não levavam até o formigueiro. Paravam num ponto no meio do caminho e deixavam a carga para que outras a levassem mais adiante. Se o formigueiro era longe, havia mais uma parada de troca de carga. As que deixavam a carga voltavam vazias para pegar mais. Por isso era difícil acabar com elas. Eu só matava o formigueiro, não as que ficavam soltas pelo caminho, as quais formavam novo formigueiro rapidamente.

E aqui é importante explicar algo no qual eu acreditava. Dizem que a isca mata o fungo delas e, assim, morrem de fome. Não é verdade. A isca contém veneno mesmo. Quando as formigas manuseiam a isca, contaminam-se e acabam morrendo. Mas se forem poucas a carregar a isca, quando morrem estas, as outras as carregam para fora do formigueiro e não transportam mais a isca para lá. Demora um pouco até que aquelas morram e as mais novas, que não conhecem os efeitos mortais da isca, passem a transportá-la novamente. Então, é preciso saber onde colocar a isca para que a maioria delas carregue e seja envenenada. Ahá! Maquiavélico, não?


Pois bem, vamos ao ponto! Como essas formigas aparecem mais na época das chuvas, é preciso observar se o local onde elas estão passando não está úmido demais. Se estiver, o veneno da isca entra em contato com a umidade e as formigas percebem. Daí, adeus sossego. Espere que o chão esteja seco na superfície, não precisa estar um deserto, mas seco por cima. Isso já é suficiente. Depois, verifique como é a isca embalada. Alguns fabricantes embalam as iscas em pequenos sacos plásticos, o que facilita seu uso em pequena escala. Se usamos poucas iscas e guardamos o resto, essa parte guardada vai se perder se não for usada logo nos próximos trinta dias. Há um jeito de guardar por um pouco mais de tempo: use um vasilhame plástico, tipo vidro de maionese, com boa tampa, que esteja bem seco e limpo. Guarde o saquinho de iscas lá dentro ou despeje tudo lá e feche bem. Não deixe perto de alimentos, animais domésticos e crianças. Deve durar uns três meses, não mais. Assim, procure as iscas que estejam embaladas em sacos menores e que estes sacos estejam dentro de um saco plástico maior. Pode guardar conforme a instrução do fabricante.

Mas onde colocar as iscas? Ahá! Aí é que está o segredo. Pegue um pedaço de mamão maduro e deixe perto da fila de formigas. Se não as encontra quando você está por perto, deixe o mamão onde elas podem estar à noite. Elas sentem o cheiro e vão em peso para lá. Mas procure primeiro onde elas estão cortando as folhas que carregam. Coloque o mais perto possível dessa planta. Deixe que elas procurem o mamão. Assim que começarem a cortar pedacinhos do mamão, sirva a sobremesa. Coloque as iscas perto do mamão, mas não tanto que a umidade da fruta molhe alguma isca. Se o chão estiver ligeiramente úmido abaixo da superfície, coloque um pedaço de plástico ou algo que não atrapalhe a subida das formigas mas que isole a umidade. Alguns fabricantes aconselham deixar o saquinho perto da trilha, que as formigas cortarão um pedaço do plástico e carregarão as iscas. Isso só funciona com saúvas, não com quen-quens. Então, despeje um pouco de isca perto da trilha, de modo que caiam alguns pedacinhos na trilha mesmo. Observe se elas começam a deixar o mamão e carregar a isca. Se em 1 hora não levarem as iscas, então não vai adiantar usá-las. Melhor preparar-se para encontrar o formigueiro e exterminá-las com fogo ou veneno mesmo. Ou, compre outra isca diferente. Veja sempre a data de validade. Iscas velhas não funcionam e, pior, só atrapalham.
Mas, se elas começarem a carregar as iscas, então despeje o saquinho inteiro ao longo da trilha. Elas começam a deixar o mamão (ou sua planta) de lado e tratam de carregar a isca. Pergunte ao vendedor se ele tem iscas para formiga com aroma de casca de laranja, elas preferem estas. O cheiro é muito bom, mas não fique cheirando muito isso: é veneno!

Vá caminhando ao lado da trilha de formigas. Você vai encontrar o ponto de troca, onde as danadinhas, cansadas, deixam a carga para que outras façam o resto do serviço. Coloque um pouco de isca aí também. Se algumas formigas usam caminhos alternativos até o formigueiro, pegarão as iscas também. Mas não desista agora. Continue procurando a trilha e, se possível, chegue até o formigueiro. Mas não despeje iscas lá. Deixe que as formigas as carreguem pelo caminho todo, assim se contaminarão com maior quantidade de veneno.


Assim que a isca chega no formigueiro, são carregadas para a 'despensa', onde pensam que vai alimentar o fungo que elas comem. Nesse manuseio constante, começam a observar que algumas formigas carregadeiras estão morrendo. Observam que as arrumadeiras, as que manuseiam o alimento do fungo dentro do formigueiro, começam a morrer também. Então, começa a limpeza. Rapidamente, as formigas começam a retirar as mortas para fora e, como percebem a origem do envenenamento, começam a retirar as iscas de lá também. É exatamente isso que queremos. Como as carregadeiras já estão contaminadas, só restarão as arrumadeiras para fazer o serviço de limpeza. E como elas entrarão em contato com o veneno também, muitas morrerão. O descontrole total do formigueiro causa sua extinção.

Mas não se alegre muito na primeira dose de iscas. Após verificar que as formigas levaram tudo para o formigueiro, continue observando se algumas sobreviveram. Às vezes, as que ficaram numa árvore cortando folhas enquanto as outras carregavam, não manusearam as iscas e permanecem vivinhas da silva. Estas, então, reunem-se num conselho e elegem nova rainha. Daí, sua tortura começará novamente em poucos dias. Elas são rápidas e muito espertas. Portanto, não descuide. Mas observe que as formigas que não entraram em contato com as iscas não conhecem o veneno contido ali. Assim, é bem possível que elas carreguem iscas para o novo formigueiro. Se você der a sorte de pegá-las ainda jovens, em poucos dias seu sossego estará de volta. Caso contrário, terá que vigiar por tempo suficiente até conseguir que todas as formigas visíveis tenham levado iscas para casa.

Não se esqueça: use mamão maduro perto da trilha das formigas. Mamão verde ou de vez não serve. Elas amam de paixão essa fruta e desistem de qualquer outra quando a encontram. Isso facilita encontrarmos a trilha das quén-quén. Elas se escondem muito bem debaixo de grama, galhos secos e folhas e não são como as saúvas, que deixam rastro por onde passam. Faça um formigocídio o quanto antes, senão elas acabarão com sua horta e suas flores. Curiosamente, elas apreciam exatamente o que nós também apreciamos. Boa sorte!